Ocorreu, entre os dias 20 a 22 de fevereiro, na comunidade Bauana (Carauari-AM), o primeiro encontro para discutir a cadeia produtiva de oleaginosas do Médio Juruá. O encontro foi organizado pelo Memorial Chico Mendes, com apoio de organizações parceiras. O evento contou com a presença de instituições, lideranças comunitárias e mais de 100 coletores tradicionais de sementes.
A cadeia produtiva das oleaginosas desempenha um papel de extrema importância, sendo crucial abordar esse tema para conscientizar as pessoas sobre a sua relevância. Ao discutir essa cadeia, compreendemos melhor os impactos ambientais e sociais associados e seu potencial para uma economia sustentável agregada dentro das comunidades locais da região do Médio Juruá. Assim, esse primeiro encontro foi muito importante, tanto para quem apoia quanto para quem acredita na potência das sementes, que geram qualidade de vida para suas famílias que vivem na e da floresta.
No primeiro dia do encontro, foi construída uma linha do tempo sobre a coleta de sementes no território do Médio Juruá. Durante a atividade , lideranças destacaram pontos-chave para o início desta cadeia produtiva na região, como um projeto de pesquisa desenvolvido no território no início dos anos 2000, que visava a produção e utilização do óleo de andiroba como biodiesel para geração de energia elétrica; e a festa do óleo que deixou claro que tal iniciativa não era economicamente viável, isso porque foram necessárias centenas de litros de óleo para gerar energia para 14 horas de evento. Após o ocorrido, a venda do óleo para a empresa multinacional Natura tornou-se uma alternativa para a comercialização do produto. Com o passar dos anos e a criação da Cooperativa Mista de Desenvolvimento Sustentável e Economia Solidária do Médio Juruá (CODAEMJ) e da Associação do Moradores Agroextrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Uacari (AMARU), a coleta e venda de sementes oleaginosas – andiroba, murumuru e ucuúba – se tornaram algumas das principais atividades econômicas dos moradores do Médio Juruá. Essa reconstrução histórica foi mediada por lideranças comunitárias reconhecidas por terem destaque dentro dessa atividade produtiva ao longo das duas décadas de atividade.
No segundo dia do encontro, os participantes listaram de forma coletiva os gargalos da cadeia produtiva, diferenciando-os por etapa do processo produtivo: 1) planejamento estratégico, 2) viagem de monitoramento pré-safra, 3) contrato entre organizações de base e empresa, 4) contrato entre organizações de base e coletores, 5) coleta, 6) pré-beneficiamento feito nas comunidades, 7) escoamento para as indústrias, 8) beneficiamento nas indústrias, 9) análises químicas e 10) escoamento do produto final para a empresa.
Os problemas citados foram relacionados principalmente à: dificuldade de alcançar um óleo de qualidade; necessidade de melhorias na infraestrutura das indústrias; gasto de tempo elevado entre etapas do processo produtivo; desafios para aumentar capital de giro; e necessidade de melhoria na gestão das organizações de base.
Ainda nesse dia, as instituições e organizações presentes apresentaram possibilidades de apoio às atividades das oleaginosas e alguns projetos que já estão em andamento no âmbito dessa cadeia produtiva. Neste momento, o Instituto Juruá apresentou o projeto de pesquisa, iniciado em 2023 – o qual visa levantar dados robustos sobre o impacto ecológico, social e econômico da coleta de sementes oleaginosas – que vem sendo desenvolvido no território. Além disso, a equipe do Instituto Juruá sinalizou a aspiração em apoiar outras demandas relacionadas e, com isso, ajudar a fortalecer esta atividade tradicional do Médio Juruá.
Por fim, no terceiro dia, os participantes do encontro se dividiram em grupos para classificar os gargalos por ordem de prioridade. Nesse momento, também foram discutidas ações que podem solucionar ou amenizar algumas das dificuldades listadas, fortalecendo assim a cadeia produtiva das oleaginosas do Médio Juruá, devido à importância dessas sementes, que vai além do aspecto econômico. Elas estão intrinsecamente ligadas à identidade cultural e ao modo de vida dessas comunidades, mantendo tradições e práticas que estão enraizadas na história e no conhecimento local. Ao reconhecer o papel central das sementes na vida dos extrativistas, pode-se contribuir para a promoção da justiça social, do fortalecimento da agricultura familiar e da preservação da floresta.
Considerando isso, ficou claro a importância de se discutir demandas atuais da cadeia produtiva, e portanto, foi acordado que este encontro será realizado anualmente a fim de fortalecer os laços entre as comunidades coletoras de sementes oleaginosas e consolidar ainda mais essa atividade produtiva tão importante para o território.